“Um Olhar Integrador”
O meu olhar, o teu olhar, ou talvez um novo olhar, será neste sentido que queremos caminhar, que devemos caminhar. Será que nos queremos (re)inventar para caminhar… às vezes achamos que sim e noutros momentos achamos que somos vencidos pelo medo do desconhecido, por tudo aquilo que não conhecemos e que nos deixa inseguros.
Falamos muitas vezes com amigos, conhecidos ou pares sobre a necessidade de aceitar “os que chegam”, de respeitar a diferença, fazer diferente, ajudar, apoiar, mas parece que existem limites para tudo isto, os nossos, é claro.
Pedimos desculpa pelos pensamentos que por vezes são mais rápidos que as nossas mãos, pois a nossa história tem um outro começo.
A nossa história começou em março de 2022, quando chegaram as primeiras Pessoas Deslocadas da Ucrânia à Estrutura de Acolhimento Coletiva (EAC), em Santarém.
Esperávamos que na EAC fossem fundamentalmente acolhidas mulheres e crianças, mas afinal os primeiros residentes foram homens provenientes de outros países que estavam a trabalhar e a residir na Ucrânia.
Perante as diferenças culturais, o nosso primeiro passo foi tentar perceber e compreender as suas necessidades e os limites da coabitação perante um conjunto de pessoas com muitas diferenças quer culturais, quer nas expetativas. Afinal, onde começava o princípio do respeito face às características e limites de uns e outros e uns com os outros…
O grupo aumentou assim como as suas assimetrias, questões como a comida, a religião, o barulho, o silêncio, a limpeza dos espaços, entre outras. Diariamente, surgiam dúvidas, que eram partilhadas com outros Colegas e Serviços, na esperança de conseguirmos melhorar. Mais uma reunião com as mulheres, outra com os homens, outra em conjunto, algumas delas com sucesso e outras nem tanto.
Olhando para trás correu tudo bem, mas viver o dia-a-dia com a incerteza se era este o caminho, como é que conseguimos “ouvir” e ajudar da melhor forma, nunca foi uma solução simples.
Poderíamos ter feito diferente em determinados momentos, mas tivemos sempre de encontrar as soluções que pareciam ser as mais adequadas ao contexto e às necessidades/características dos envolvidos.
Estávamos de facto, perante pessoas que estavam em diferentes processos, tinham perdido a família, a casa, o trabalho, e tantas outras coisas importantes.
Este acolhimento foi mantido até ao início do ano de 2023, remeteu-nos para a necessidade de refletirmos num grupo mais alargado, sobre as questões das diferenças e da necessidade de nos reorganizarmos não apenas na intervenção, mas também na nossa capacidade interna de aceitação, respeito e de compreensão do outro(s).
No dia 23 de maio, no Auditório Teatro Sá da Bandeira, a Misericórdia de Santarém promove a X Ciclo de Conferências em Economia Social, este ano subordinado ao tema: “Um Olhar integrador nas Organizações de Economia Social”, convidámos quem tem , quem vive experiencias de integração, quem não tem receio de as partilhar e continuar a pensar sobre um futuro onde a Imigração e os Imigrantes já fazem parte.
Para além das questões identificadas pretendemos ainda refletir e conhecer os resultados da intervenção preconizada nos últimos três anos, pelo projeto D’AR-TE, dinamizado na Casa de Acolhimento Residencial da Misericórdia de Santarém.
O Projeto teve como objetivo a diminuição e a prevenção de situações de (re)incidência da agressão através da promoção de competências pessoais, da socialização interpessoal e do fomento das relações, com recurso à integração sistémica de um conjunto de atividades de estimulação, nas áreas do desporto (judo), das artes e da realidade virtual, intervindo na individualidade das crianças e jovens, potenciando comportamentos mais integradores, quer na Casa de Acolhimento, quer na Comunidade onde estão integrados.
Em ambos os contextos estamos a falar de OLHARES, de conseguirmos criar novas perspetivas… e voltamos ao início deste texto, o meu olhar, o teu olhar, um novo olhar e a construção de um novo caminho.